quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

"Hoje passei diante de um parque de diversões. 
Fiquei observando as pessoas. 
Fiquei muito tempo parado diante da montanha-russa: vi que a maioria das pessoas entrava ali em busca de emoção, mas quando começava a andar as pessoas ali presentes morriam de medo e pediam para pararem os carros.
O que elas querem? Se escolheram a aventura, não deveriam estar preparadas para ir até o final? Ou acham que seria mais interessante deixar de passar por esse sobe-e-desce, e ficar o tempo todo em um carrossel, girando no mesmo lugar?
A montanha-russa é a minha vida, a vida é um jogo forte e alucinante, a vida é lançar-se de pára-quedas, arriscar-se, cair e voltar a levantar-se, é alpinismo, é querer subir ao topo de si mesmo, e ficar insatisfeito e angustiado quando falhar.
Não é fácil perder as coisas que mais se ama na vida, expressar-se e dizer o que realmente tem vontade de falar, ouvir coisas que os outros inventam, errar e não poder tentar novamente. 
Mas a partir de hoje, quando ficar deprimido, vou lembrar-me daquele parque de diversões. Se eu tivesse dormido e acordado em uma motanha-russa, o que sentiria?
Bem, a primeira sensação é a de estar aprisionado, ficar apavorado com as curvas, querer vomitar e sair dali. 
Entretando, se confiar que os trilhos são meu destino, que Deus está governando a máquina, este pesadelo transforma-se em excitação. 
Ela passa a ser exatamente o que é, uma montanha-russa, um brinquedo seguro e confortável, que vai chegar ao final, mas que, enquanto a viagem dura, me obrigo a olhar a paisagem ao redor e gritar..."

Paulo Coelho